Etty Hillesium (imagem retirada de My Jewish Learning)

Será que a natureza humana é de gostar de dar e receber com compaixão?

Se é...

O que nos desliga dessa natureza solidária, levando-nos a um comportamento violento e à exploração do outro?

Se não é...

O que permite que alguns continuem ligados à sua compaixão mesmo em circunstâncias que estão no limite da adversidade?

Não é fácil amedrontar-me. Não porque seja corajosa, mas por saber que lido com seres humanos e tenho de tentar ao máximo compreender tudo o que qualquer um possa fazer. E foi isso o que realmente importou esta manhã - não foi porque um jovem funcionário da Gestapo, contrariado, me gritou, mas porque não me senti indigna; pelo contrário, senti uma verdadeira compaixão e vontade de lhe perguntar: "Tiveste uma infância infeliz? Discutiste com a tua namorada?" Sim, pareceu-me atormentado e obececado, mal-humorado e fraco. A minha vontade era começar a tratar dele mesmo ali, porque sei que os jovens dignos de pena como ele se tornam perigosos mal se vejam soltos no mundo."

Etty Hillesium, Diário 1941-1943

Arte de Yuliia Khazova

Eu conheci uma rapariga e ficámos
Numa casinha na periferia da cidade
Casamos, e juramos que nunca nos separaríamos
Então, pouco a pouco fomos nos afastando um do outro
No início, pensei que fosse apenas alguma inquietação minha
Que desaparecia com o passar do tempo e de novo o nosso amor cresceria profundamente
No final era algo mais, acho eu
Que nos dividiu e nos fez chorar
E eu estou conduzindo um carro roubado
Pela Eldrige Avenue
Cada noite eu espero ser apanhado
Mas nunca serei

Ela perguntou-me se eu me lembrava das cartas que escrevi
Quando o nosso amor era jovem e forte
Ela disse-me que ontem à noite leu aquelas cartas
E elas fizeram-lhe se sentir com cem anos

Estou a conduzir um carro roubado
No escuridão da noite
E eu estou a dizer a mim próprio que vou ficar bem
Mas eu viajo pela noite adentro com medo

De que na escuridão, eu vá desaparecer

Bruce Springsteen, 1980

Arte de Lina Kit

As tuas palavras condenam-me,

Julgam-me e afastam-me tanto.

Antes de partir, preciso de ouvir:

O que disseste era o que querias dizer?

Antes que me defenda, altiva,

Antes que fale por mágoa ou por medo,

Antes que erga um muro de palavras,

Diz-me: o que ouvi foi o que ouvi?

As palavras são janelas, ou são muros,

Ou nos condenam ou nos libertam.

Quando falar ou quando ouvir

Que a luz do amor de mim irradie.

Tenho de dizer certas coisas

Que tanto me importam.

Se por acaso não for clara

Ajudas-me a libertar-me enfim?

Se te pareceu que te critiquei,

Se achaste que não me importo,

Tenta ouvir nas minhas palavras

Os sentimentos que partilhamos.

Ruth Bebermyer